Os líderes empresariais brasileiros identificaram um aumento nas ameaças externas às companhias que comandam, apontou um estudo da consultoria Russell Reynolds com executivos de diversos países. Entre os brasileiros, diversas preocupações fazem parte, como aumento de regulações, incertezas com o cenário geopolítico global e alta rotatividade de trabalhadores elevaram a percepção de ameaças em 30% desde a edição anterior da pesquisa, relativa ao segundo semestre de 2023.
A pesquisa “Monitor Global de Liderança” foi realizada com mais de 2.700 altos executivos e integrantes de conselhos de administração em 46 países, abrangendo diversos setores da economia, como indústria, serviços e outros.
No Brasil, o total de executivos que viu um aumento nas ameaças externas aumentou 64% em 2024. A ameaça mais citada foi a incerteza sobre o crescimento econômico do País, que foi de 64% a 72%. Na sequência, aparecem avanços tecnológicos, na cabeça de 53% dos líderes (queda de 3 pontos porcentuais), a disponibilidade de talentos (-2 pontos porcentuais), o aumento nas regulações (40%, aumento de 11 pontos porcentuais) e mudanças no padrão de comportamento do consumidor (também 40%, +4 pontos porcentuais).
A incerteza sobre o crescimento econômico aparece em meio a um cenário geopolítico complicado e questões fiscais para o governo brasileiro. Com dificuldades dentro e fora do País, os empresários sentem que é cada vez mais difícil lidar com os problemas e estar preparado para cenários que mudam com velocidade. Temas como a eleição nos Estados Unidos e as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio turvam a visão e trazem insegurança, principalmente quanto ao valor de commodities como o petróleo.
Em relação à tecnologia, entender as oportunidades e desafios trazidos pela inteligência artificial é fundamental para saber como ela pode ser utilizada para agregar valor nas empresas. “Se estiver preparado para usar inteligência artificial, a produtividade aumenta muito, é indiscutível o valor disso. Mas ainda não a conhecemos bem e usamos pouco os recursos. Quais são os limites do que ela pode ou não fazer?”, questiona Flávia Leão, sócia-diretora e head da Russell Reynolds no Brasil. A cibersegurança é outro ponto importante de ser discutido.
As regulações são um assunto novo — no caso do Brasil, algumas novas como a reforma tributária podem exigir adaptações. Novas regras para proteção ambiental também estão cada vez mais presentes, e por vezes a de outros países reverbera aqui, como a legislação antidesmatamento da União Europeia, que teve a aplicação adiada em um ano. “Tornou-se mais difícil lidar com esses temas porque se tornaram mais complexos”, resume Leão.
Em relação à pauta ambiental, a preocupação com o tema decaiu entre os executivos brasileiros — de 31% no segundo semestre de 2023 para 21% em 2024. A mudança era esperada, segundo a especialista da Russell Reynolds. “Tem momentos em que o foco se enfraquece e ocorre uma certa oscilação. É uma questão de consciência das empresas, mas não dá para ignorar porque existe uma pressão social que pode gerar impacto sobre a reputação da marca”, comenta.
Talentos
A disponibilidade de talentos é uma questão ainda em alta no Brasil, apesar da ligeira queda de 48% em 2023 para 46% em 2024. No entanto, as empresas também demonstraram confiança na capacidade de atração de talentos. Na avaliação dos autores da pesquisa, isso demonstra que as companhias tem compreendido melhor os trabalhadores.
“É uma questão de criar liderança forte, cultura forte, uma conexão que vá além da remuneração”, explica Leão. “Se há bons desafios para o profissional, uma boa liderança e uma cultura que ele goste de trabalhar, e principalmente se tem perspectiva de crescimento na empresa, ele vai querer ficar. O bom talento é sempre requisitado, a questão não é quantos você perde, é quem você perde”, resume.
Os talentos precisam estar presentes também na liderança, que deve estar atenta às mudanças e preparada para lidar com a inconstância no cenário global. A atitude frente aos desafios conta muito com tantas ameaças. “O líder que se sentir motivado e atraído por esses desafios vai navegar num cenário tão difícil quanto os outros, mas se sentindo estimulado e motivado para lidar”, afirma Leão. Igualmente importante, a recomendação é não ficar paralisado ou preso a formas de agir unicamente porque deram certo no passado.
Autor/Veículo: O Estado de São Paulo