Um novo corte de 0,5 ponto porcentual da taxa Selic, hoje em 13,25% ao ano, é a previsão do mercado para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central que começa hoje e vai até amanhã, segundo levantamento do Estadão/Broadcast com 69 instituições. Para as próximas reuniões (marcadas para o fim de outubro e meados de dezembro), os dados recentes indicando queda da inflação recolocaram no radar uma possível aceleração do ritmo de redução dos juros – para 0,75 ponto, ainda que essa posição continue minoritária.
Das 69 instituições consultadas, 55 esperam cortes sequenciais de 0,5 ponto nos juros até o fim de 2023, enquanto 12 preveem aceleração do ritmo de baixa, com ao menos uma redução de 0,75 ponto neste ano. Uma das instituições prevê um corte de 0,5 e outro de 0,25 ponto, e outra informou apenas a projeção para a reunião desta semana.
O Itaú Unibanco, que antes projetava três cortes de 0,5 ponto até o fim do ano, passou a prever redução de 0,75 ponto dos juros em dezembro após o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) marcar variação de 0,23% em agosto, abaixo do esperado pelo mercado.
Em relatório, o economistachefe do banco, Mario Mesquita, atribuiu a revisão à dinâmica mais benigna da inflação de serviços e à desaceleração da atividade econômica – que, na sua avaliação, deve ficar mais evidente ao longo do segundo semestre. O Itaú reduziu as projeções para a Selic no fim de 2023 (11,75% para 11,5%) e de 2024 (9,5% para 9,0%).
O estrategista-chefe da Warren Rena, Sérgio Goldenstein, também espera aceleração dos cortes na Selic a partir de dezembro. Além da desinflação dos serviços e da desaceleração da atividade econômica, ele cita o ano de 2025 no horizonte relevante da política monetária (ou seja, o cenário a ser levado em consideração pelo BC para levar a inflação para a meta) como um fator que deve levar à intensificação neste momento do ciclo de corte da Selic.
“À medida que avançamos no tempo, 2025 vai ganhando peso no horizonte relevante. É importante lembrar que, já no último Copom, a projeção para inflação do comitê para 2025 estava cravada em 3%, em linha com a meta”, afirma Goldenstein.
OTIMISMO MENOR. Um corte de 0,75 ponto ainda neste ano não é corroborado, porém, pelo economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio de Sousa Leal, embora ele avalie que a inflação mais benigna de serviços coloque essa possibilidade na mesa.
Por enquanto, Leal conserva a perspectiva de manutenção do ritmo de cortes até o fim do ano, levando a Selic a 11,75% na reunião de dezembro. Para uma aceleração, segundo ele, seria necessária também uma mudança de tom na comunicação do BC. “Ela teria de dar mais ênfase à desinflação de serviços como vetor que possibilitaria essa aceleração”, afirma. “Entre
as três condicionantes mencionadas pelo BC na última ata, é a que eu vejo com mais chance de seguir acontecendo.”
O economista da XP Investimentos Rodolfo Margato pondera que, apesar da leitura mais favorável da inflação corrente, outros vetores jogam contra uma possível aceleração de cortes da Selic: a depreciação recente do câmbio e a elevação dos preços internacionais do petróleo (ontem, o barril do tipo Brent encostou em US$ 95 no mercado internacional). Por isso, ele prevê manutenção do ritmo de 0,5 ponto para os cortes da Selic, chegando a 11,75% no fim de 2023.
Margato projeta uma Selic de 10% no fim do ciclo de cortes, a ser atingido em meados de 2024 – acima do previsto pela maioria do mercado. “Se chegarmos ao segundo trimestre do ano que vem com um cenário externo mais favorável, um câmbio mais próximo de R$ 4,50, recuo nos preços do petróleo e alguma acomodação das discussões fiscais no Brasil, pode haver espaço para níveis abaixo de 10% para a Selic”, diz ele. •
Autor/Veículo: O Estado de S.Paulo