Representantes do setor de transportes criticaram o aumento da mistura obrigatória de biodiesel ao diesel, de 10% para 12%, determinado pelo governo em março. O assunto foi debatido (18) na Comissão de Viação e Transportes da Câmara.
A audiência foi proposta pelo deputado Zé Trovão (PL-SC). Ele afirma que o novo teor de biodiesel prejudica os motores de ônibus e caminhões, aumentando o custo de manutenção dos veículos. Entre os problemas verificados, está o entupimento do filtro de combustível, segundo o deputado.
“O maior problema do biodiesel para o nosso transporte de cargas e para as nossas máquinas agrícolas é a borra que se cria no fundo do tanque. Essa borra não nasceu ali, não vem do diesel. Ela vem da mistura que é feita através dos seus componentes do biodiesel, que transforma essa borra. ”
Para o deputado Zé Trovão, o governo só deveria ter decretado o aumento do percentual após estudos “técnicos e imparciais” que verificassem o efeito do biocombustível renovável sobre os motores.
A gerente executiva ambiental da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Erica Marcos, também criticou o novo percentual aprovado pelo governo. Segundo ela, levantamento recente feito pela entidade mostrou que mais de 60% das empresas transportadoras relataram problemas mecânicos em seus caminhões relacionados ao uso de biodiesel.
“A gente tem um problema de campo, ele não pode ser negado, a gente precisa entender isso. A gente não pode ignorar fatos, fatos são fatos e a gente precisa trabalhar com a diversificação da matriz energética nacional. Existem combustíveis mais avançados que entregam a descarbonização desejada e que não trazem esses custos evitáveis ao usuário. ”
Presente ao debate, o diretor do Departamento de Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Marlon Arraes, rebateu as afirmações de que o aumento da adição de biodiesel ao diesel prejudica os motores de veículos. Segundo Arraes, os caminhões e ônibus modernos estão aptos a usar a mistura.
“Se você tem acesso a um combustível especificado de boa qualidade na ponta, e você abastece combustível e você segue o plano de manutenção preconizado pelo fabricante, não é para ter problema algum, você não vai ter problema algum. É isso que há de ter em conta, porque às vezes muitas intervenções que acontecem nos veículos geram o que se chama de mau uso e aí você tem um efeito cascata onde muitos componentes se comprometem a partir disso. ”
A ampliação da presença de biodiesel no diesel para 12% foi determinada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), órgão de assessoramento do presidente da República. A proposta também estabelece que o teor será elevado gradualmente, até chegar a 15% em abril de 2026.
Fonte: Rádio Câmara, de Brasília, com informações de Janary Junior, Ana Raquel Macedo