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Distribuidoras renegociam preço do biodiesel

As distribuidoras de combustível renegociaram os valores de compra de biodiesel para mistura ao diesel que ainda estão vigentes no bimestre atual (março e abril), depois que o governo federal desonerou o produto de PIS/Cofins. Isso pode ajudar a diminuir os preços do diesel nas bombas já nesse período, antes mesmo das negociações dos contratos para o próximo bimestre, mas o efeito no preço final depende de as distribuidoras e postos repassarem os descontos aos consumidores.

Em 11 de março, o governo sacionou a lei complementar 192/22, que isentou de PIS e Cofins combustíveis como diesel e biodiesel. Os tributos sobre o biodiesel eram de R$ 148 o metro cúbico, mas a ampla maioria dos produtores pagava menos (R$ 58,24/metro cúbico) por causa do Selo Biocombustível Social, atrelado ao uso de matéria-prima da agricultura familiar.

Apesar disso, as distribuidoras conseguiram acertar com boa parte das usinas descontos do valor integral de PIS/Cofins, segundo Nicolle Monteiro de Castro, especialista sênior de preços da S&P Global Commodity Insights. Com o desconto, houve redução de R$ 0,148 no valor do litro do renovável, que atualmente é misturado em 10% ao diesel fóssil.

Desde o início deste ano, a comercialização de biodiesel deixou de ser feita por meio de leilões com intermediação da Petrobras e passou a ocorrer diretamente entre distribuidores e usinas, mas os contratos seguem com validade bimestral e precisam ser homologados com antecedência na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Assim, as entregas de biodiesel programadas para este bimestre já estavam com valores acertados em fevereiro, antes da desoneração. A princípio, o efeito do corte dos impostos sobre os preços deveria ocorrer apenas a partir de maio, quando começa o novo bimestre e o novo período contratual.

Muitas usinas produtoras de biodiesel, porém, aceitaram reduzir os valores dos contratos atuais com o intuito de preservar as relações comerciais em um momento desfavorável no mercado, segundo Castro. Atualmente, a demanda pelo biodiesel está mais fraca que o esperado por causa dos preços altos de combustíveis, que reprimiu a demanda, e das incertezas recentes com o abastecimento de diesel.

As retiradas de biodiesel realizadas pelas distribuidoras nas usinas estão inclusive abaixo do valor total contratado, dentro do limite de flexibilização de 10%. Essa baixa liquidez começou a gerar um problema para os produtores, que não têm tanques suficientes para estocar a produção.

Os preços do biodiesel no mercado físico – que representa uma fração pequena das negociações, mas reflete a dinâmica geral do mercado – vêm recuando nos últimos dias. Com isso, depois de acumularem alta até o início de março, eles estão agora em queda neste ano.

O indicador da S&P para o biodiesel em Paulínia ficou ontem em R$ 6.655 o metro cúbico, abaixo do pico de R$ 7515/m³alcançado em 15 de março. Em uma semana, o preço caiu 3,27%, revertendo a alta das semanas anteriores. No primeiro dia de negociações do ano, 3 de janeiro, o valor estava em R$ 6.831/m³.

No entanto, o efeito real dessa pressão dos preços do biodiesel sobre os valores do diesel vendido nas bombas ainda é incerto. Uma semana antes da desoneração, o valor médio nacional do diesel era R$ 5,814 o litro, e duas semanas depois, nos sete dias encerrados em 26 de março, o preço estava em R$ 6,564 o litro, segundo a ANP.

Procurada, a Vibra Energia, maior distribuidora do país, confirmou que “já está com custos menores em função da desoneração”. Raízen e Ipiranga preferiram não comentar.

Para as negociações do contratos de maio e junho, que ocorrerão entre 10 e 25 de abril, os preços do biocombustível devem continuar sob pressão, acredita a analista da S&P Global. “Considerando o histórico de preço de óleo de soja em Paranaguá, a tendência é que os preços caiam em junho. Conjunturalmente, considerando que vamos ter uma oferta maior de óleo em maio e junho do que nos primeiros dois bimestres do ano, há uma tendência de preços mais baixos”, disse.

Por outro lado, a aproximação do inverno torna alguns tipos de biodiesel inapropriados em alguns Estados, segundo as regras da ANP, o que pode aumentar a procura pelo biodiesel com melhor padrão de certificação. Já para os últimos dois trimestres do ano, ela acredita em uma nova alta dos preços, como reflexo da quebra na safra de soja (principal matéria-prima do biodiesel no Brasil) na Argentina e no Rio Grande do Sul.

Fonte: Valor Econômico