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Em linha com governo, Petrobras diversifica investimentos pelo país

Depois da era dedicada apenas ao pré-sal, a Petrobras pretende ampliar seus investimentos em diversas regiões do Brasil, de forma não só a reduzir a concentração de seu plano de negócios no Sudeste, mas seguir a estratégia do governo Luiz Inácio Lula da Silva para estimular os investimentos na economia e gerar empregos — paralelamente ao novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma das bandeiras do petista. Na lista, estão projetos como a ampliação de uma refinaria no Nordeste, a retomada das fábricas de fertilizantes no Sul e no Centro-Oeste e a construção de navios.

Para especialistas ouvidos pelo GLOBO, o governo quer se valer da força da Petrobras e de seu volume de obras para angariar votos, de olho, sobretudo, nas eleições presidenciais de 2026. Recentemente, a estatal anunciou US$ 102 bilhões em investimentos para os anos 2024-2028, dos quais US$ 91 bilhões se referem a projetos já definidos ou em implementação, e US$ 11 bilhões, àqueles ainda em avaliaçã

Dos projetos firmes, o Estado do Rio lidera a lista, com US$ 64,64 bilhões, seguido de São Paulo (com US$ 6,35 bilhões) e Espírito Santo (US$ 3,65 bilhões). Segundo dados da Petrobras, considerando-se Minas Gerais, com US$ 670 milhões, o Sudeste responde, sozinho, por 83% do total, seguido de Nordeste (com quase 8%), Norte e Sul (1,8% cada) e Centro-Oeste (menos de 1%), além de investimentos em locais ainda não definidos.

‘Dividendos políticos’
Esse mapa, porém, deve mudar em breve. A tendência é a participação de novos estados aumentar conforme entrem os novos projetos. Além das futuras plantas de energia renovável no Nordeste, que ainda não foram anunciadas, há a conclusão dos 20% restantes da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados 3, em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. A licitação deve ser feita no segundo semestre de 2024. As obras estão paradas desde 2014, na esteira da crise gerada pela Operação Lava-Jato.

Segundo especialistas, esse movimento já era esperado, pois em sua campanha Lula defendia a Petrobras como indutora de crescimento econômico. O cientista político Ricardo Ismael, professor do Departamento de Ciências Sociais da PUC-RJ, lembra que o atual governo, por questões fiscais, tem uma capacidade baixa de investimento público, o que aumenta sua dependência para com as estatais:

— Eu diria que vamos repetir o modelo anterior dos governos do PT e do Lula, de ter a Petrobras para alavancar obras que são importantes, muitas delas ligadas ao PAC. O próprio sucesso do PAC depende desse plano de negócios da Petrobras.

Para Ismael, o governo tem a visão de que, para produzir crescimento, é preciso haver ação do Estado:

— Isso é interessante para o governo que quer se reeleger em 2026 — afirma. — Os dividendos políticos virão. Até 2026, vamos ver retomada e início de obras. O problema é que, se der errado, a empresa novamente passará por dificuldades, com aumento de endividamento.

Um especialista, sob a condição de anonimato, afirma que a Petrobras funciona como uma espécie de “âncora política” — tanto que o presidente da estatal, Jean Paul Prates, esteve no lançamento do novo PAC, em agosto. Segundo esse especialista, a empresa deve entrar “em áreas que possam gerar bônus eleitorais para o governo e o PT.”

Essa visão foi reforçada pelo fato de Prates, ao apresentar o plano de negócios 2024-2028, ter citado a projeção de gerar 280 mil empregos.

Um dos setores na mira da Petrobras (e do governo) é o naval. O plano atual contempla quatro navios de cabotagem, mas a estatal já separou mais US$ 2 milhões para aumentar essa carteira de encomendas, o que ocorrerá em breve, segundo fontes.

A Transpetro, subsidiária da Petrobras, já fez uma consulta técnica com estaleiros de todo o país e chegou a uma lista com 16 pré-qualificados. As empresas habilitadas devem ser divulgadas nas próximas semanas.

Na Transpetro, dizem fontes, a promessa é entregar o primeiro navio até 2026. A licitação dessas primeiras embarcações deve ocorrer no primeiro trimestre de 2024, permitindo a geração de empregos no setor naval, uma das promessas de campanha de Lula. O presidente de um dos estaleiros disse, sob a condição de anonimato, que já busca linhas de financiamento no Brasil e no exterior, para dar celeridade ao processo assim que as licitações começarem.

Nessa área, os planos da estatal envolvem ainda o descomissionamento (desmonte) de 20 plataformas até 2027 e a construção, no ano que vem, de 50 módulos de plataforma. A promessa é gerar até 80 mil vagas, quatro vezes mais que as atuais 20 mil do setor naval.

— Empreendimentos como refinarias e fertilizantes estão ancorados na estratégia de que uma empresa de petróleo gera efeitos para outras indústrias, o que acaba sendo importante para a economia — diz Helder Queiroz, professor titular do Instituto de Economia da UFRJ, ressaltando que esses efeitos não são imediatos.

Temor de ‘uso’ da estatal
Em refino, o principal projeto é a ampliação, a partir de 2025, da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que o governo anterior tentou vender. A estimativa é que as obras gerem 10 mil empregos. Além disso, a Petrobras quer voltar a operar a refinaria de Mataripe, na Bahia, recomprando parte das ações hoje nas mãos do Mubadala, o fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos.

Na área de fertilizantes, a estatal prevê ainda a retomada da unidade da Ansa. E a companhia busca uma solução para as duas Fábricas de Fertilizantes Nitrogenados (Fafens), na Bahia e em Sergipe, que foram arrendadas à Unigel.

O Nordeste ainda deve ganhar mais investimentos firmes da Petrobras assim que for definido o destino dos U$ 5,2 bilhões que estão reservados para os projetos de energia solar e eólica offshore. Para esta última, a estatal tem projetos em Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão.

Sobre o alinhamento da Petrobras aos planos do governo, Pedro Rodrigues, sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), ressalta:

— O governo está certo em querer gerar empregos, desde que a Petrobras não seja usada novamente. A atuação em fertilizantes, por exemplo, é para vender produtos subsidiados? Os últimos investimentos em refino foram superdimensionados. E hoje as petroleiras no exterior estão colocando o pé no freio em eólica offshore, pois o retorno é baixo.

Autor/Veículo: O Globo