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Governo cobra sinalização do BC para início do ciclo de corte dos juros

Sem expectativa de que haverá queda dos juros na reunião que termina hoje do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, o governo conta como certo que o BC vai abrir as portas para o início da redução da taxa básica de juros (Selic) a partir de agosto.

Se o sinal dado no comunicado a ser divulgado pelo comitê após a decisão for na direção contrária, e apontar que é preciso esperar mais tempo para as expectativas de inflação se “ancorarem” (ou seja, convergirem para a meta), o conflito entre o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e o governo Lula deve subir ainda mais de tom. Interlocutores do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliam que, num cenário desse tipo, estaria configurada uma “declaração de guerra”, segundo apurou o Estadão.

O risco que a área econômica enxerga é de ocorrer um novo descolamento da curva de juros (o valor que o mercado espera para as taxas de juros no futuro), retardando o início do ciclo de flexibilização da taxa Selic no Brasil – hoje, no patamar de 13,75% ao ano. Isso aconteceu em fevereiro, quando o mercado passou para o fim do ano a previsão de queda de juros. Agora, a expectativa do mercado financeiro é de que os juros comecem a cair em agosto, com a taxa básica terminando o ano em 12,25%. Para 2024, os juros devem recuar a 9,5%.

“Não vai haver um corte nesta semana, mas, entre agosto e setembro, é meio que jogar uma moeda. Vai depender, primeiro, de como os dados vão vir até a reunião de agosto, e, segundo, de qual é o recado que o BC quer passar. É uma questão de ajuste fino da estratégia”, afirma Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos.

O nível de juros é visto pela equipe econômica como ponto central para a agenda econômica. O temor é de que, num cenário de manutenção dos juros no patamar atual, a economia brasileira comece a desacelerar muito fortemente após a melhora recente de indicadores econômicos como dólar, risco Brasil e previsão de crescimento.

Cenário A estimativa de analistas é de que a Selic feche o ano em 12,25%, ante os 13,75% de hoje

GALÍPOLO. A reunião de agosto do Copom já deverá contar com o voto do economista Gabriel Galípolo, indicado para a diretoria de Política Monetária do BC. Ex-secretário executivo de Haddad, Galípolo deixou o cargo na última segunda-feira, e deve passar por sabatina no Senado na próxima terça-feira.

Com Galípolo no BC, o que se espera é que ele construa pontes dos dois lados, hoje ainda em conflito. Haddad entende que é preciso ter confiança de que a política de juros está sendo conduzida tecnicamente. Esse é justamente o ponto que vem sendo reforçado por Roberto Campos Neto: mostrar a Galípolo que as decisões de juros são técnicas. Galípolo e Campos Neto têm um diálogo considerado positivo, mas há desconfiança dos dois lados: BC e governo.

Do lado do BC, existe a desconfiança de que Galípolo foi indicado com a missão de não fazer uma gestão técnica; assim, ele teria de angariar credibilidade, já que é apontado como sucessor de Campos Neto na presidência. O mandato do atual presidente do BC vai até o fim de 2024. •

Fonte: O Estado de S.Paulo