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‘Megarreajuste’ mostra que controle de preços é ‘grave erro’, diz ex-presidente

O ex-presidente da Petrobras Roberto Castello Branco disse ao Estadão que a decisão da empresa de reajustar os preços do diesel em 25,8% e da gasolina em 16,2% numa tacada só mostra que o controle de preços dos combustíveis, praticado pela atual gestão da Petrobras, é “um grave erro” e “ruim em todos os aspectos”.

Segundo Castello Branco, além de desestimular as importações de diesel pela iniciativa privada, aumentando o risco de desabastecimento, e do impacto negativo sobre os consumidores e a inflação, o “represamento” dos reajustes de preços prejudica a própria Petrobras e seus acionistas, ao afetar o fluxo de caixa da companhia

“Quando você controla o preço do diesel e não importa o suficiente, e a Petrobras não importa o suficiente, o resultado esperado é esse mesmo: desabastecimento. Não será um desabastecimento generalizado, para o qual seria necessário ficar muito tempo sem importar, mas vai faltar diesel em alguns lugares, como aparentemente aconteceu”, afirma.

Para ele, ficar segurando os reajustes e depois anunciar um aumento pesado de uma só vez é pior do que atualizar os preços de forma gradual, conforme a variação do mercado. “De repente, para o consumidor, acordar com um megarreajuste do combustível que ele usa todos os dias não é bom. não. Tem um impacto direto na inflação e gera um efeito cascata, afetando outros preços da economia.”

Castello Branco diz que, ao contrário da gasolina, o diesel não entra no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE, que é o indicador oficial de inflação. Mas entra em outros índices de preços, como o IGPM (Índice Geral de Preços – Mercado) e o IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo), calculados pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), que refletem a alta no atacado e vão impactar o IPCA mais à frente.

De acordo com o ex-presidente da Petrobras, o controle de preços “é ruim em todos os aspectos” e gera também um efeito negativo no fluxo de caixa, afetando os investimentos e o pagamento de dívidas e a distribuição de dividendos, inclusive para o governo, que é o principal acionista da empresa.

“Se o propósito era reajustar os preços desde o começo, é um grave erro ficar um longo período sem reajuste, porque a velocidade de geração do fluxo de caixa de uma companhia de petróleo é muto alta”, afirma. “Se você ficar com os preços artificialmente baixos por muito tempo, vai deixar um monte de dinheiro em cima da mesa. São bilhões de reais que deixam de entrar no caixa da empresa. E, depois, você vai ser forçado, como eles foram agora, a dar um megarreajuste. Isso é muito ruim e não vai trazer de volta o que a empresa deixou de ganhar no passado. Aquele caixa que você perdeu já foi.”

Para Castello Branco, o que está em jogo neste caso não é o lucro da Petrobras. “Não estou falando de lucro contábil. Estou falando de caixa, dinheiro. Se tivesse concedido os reajustes ao longo do tempo, de forma gradual, a Petrobras poderia ter gerado muito mais dinheiro e não gerou.”

Autor/Veículo: O Estado de São Paulo