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O biodiesel e o novo Ministro do Ministério de Minas e Energia (MME)

Ontem foi comunicada a dispensa de Bento Albuquerque do cargo de ministro de Minas e Energia. Em seu lugar entra Adolfo Sachsida, que, até ante ontem, era assessor especial do ministro Paulo Guedes.

O fato do novo ministro vir do Ministério da Economia deixou o setor de biodiesel preocupado em razão do amplamente conhecido entendimento da pasta de que valeria a pena sacrificar o biodiesel para reduzir o preço final do óleo diesel. O receio é que, sem Bento no comando do MME para refrear os impulsos da equipe de Guedes, venham novas reduções na mistura de biodiesel ou aconteça a abertura do mercado para a importações. Não seria nem a primeira e nem a segunda tentativas de fazer algo assim.

Talvez o setor esteja olhando para o novo ministro como se ele ainda fosse o assessor especial de Guedes. Não mais. Agora ele é um par de seu antigo chefe e passa a ser o responsável pelas medidas tomadas sob sua gestão.

Como ministro, Sachsida vai ser informado da situação do mercado mundial de diesel. Os secretários e técnicos do ministério vão explicar para ele que hoje o problema no mundo hoje não é tanto a falta de petróleo, mas de diesel. As margens das refinarias de diesel que historicamente giram em torno de US$ 10 por barril estão na casa dos US$ 50. E mesmo com uma margem de lucro dos sonhos não estão conseguindo atender a demanda. Nos EUA já se fala em desabastecimento da costa leste com os estoques nos menores níveis históricos.

No Brasil a situação não é muito diferente. Uma redução no percentual da mistura de biodiesel, portanto, traria uma pressão maior para uma cadeia já anda estressada pela escassez do produto. E nenhuma pessoa que queira mostrar um bom trabalho gostaria de ser conhecida como a responsável por deixar os caminhoneiros sem ter onde comprar combustível. A oposição estaria pronta para despejar uma enxurrada de memes ironizando que se antes estava caro, mas dava para comprar, com o novo ministro, nem pagando o preço que for.

Além do problema do desabastecimento, o Sachsida receberá a informação de que a diferença entre o preço do diesel e do biodiesel vem caindo.

Quando o CNPE decidiu pelo B10 para o ano de 2022, o preço do diesel nas refinarias sem impostos era de cerca de R$ 3,35 por litro. Agora está na casa dos R$ 5. Nesse mesmo período o biodiesel saiu de R$ 5,90 para R$ 6,97.

Se a mistura de biodiesel voltasse para B12 hoje, o litro do diesel B sairia de 5,197 para 5,236. Menos de 4 centavos de diferença. Por outro lado, mantendo o B10 e corrigindo o preço diesel no Brasil nos 10% que ainda faltam para atingir a paridade com os preços internacionais, o diesel B subiria para R$ 5,647 nas refinarias.

Ou seja, alterar a mistura de biodiesel teria efeito quase nulo nas bombas e abalaria fortemente a cadeia de produção de biodiesel. E não mexeria nada com as decisões da Petrobras que têm um impacto muito maior no preço final.

Importação

Alguém pode sugerir ao ministro que a importação de biodiesel seja uma saída. O ministro com sua bagagem vai fazer as contas na hora e perceber que os ganhos são mínimos.

Hoje o preço praticado no Brasil é muito próximo do internacional, mas para efeito de cálculos vamos supor que o biodiesel da Argentina entre no Brasil custado 10% menos, R$ 6,273. Se todo o biodiesel consumido no Brasil vier da Argentina por esse preço teríamos uma redução no preço final do diesel B de 7 centavos. Se o volume importado for equivalente a 20% do consumo a redução no preço final será de 1,4 centavos por litro de diesel B.

Com os atuais patamares de preços, alterar o mercado de biodiesel gera uma repercussão enorme na cadeia da soja e efeitos mínimos na vida de quem consome diesel. Não é trazendo desemprego e insegurança para um setor que quer ajudar o desenvolvimento sustentável do Brasil que o governo vai conseguir reduzir o preço do diesel.

A alta nos combustíveis é um problema mundial que requer muito mais esforço e boas ideias do que temos visto até agora.

FONTE: Revista Biodieselbr