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Obras avançadas e dependência de diesel justificam refinaria Abreu e Lima

A retomada das obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) incluiu no Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), é vista no mercado como favorável à Petrobras, por ampliar sua produção de combustíveis em um investimento já com mais de 80% de avanço.

A refinaria foi um dos símbolos do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato e teve peso importante no maior prejuízo já registrado pela estatal, em 2014, fruto de baixas contábeis em investimentos que não tinham viabilidade econômica.

O cenário hoje é considerado diferente. O segmento de refino vive um momento historicamente favorável, com margens elevadas pelo aperto na relação entre oferta e demanda, agravado após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

O Brasil importa cerca de um quarto de seu consumo de diesel, um dos principais produtos do projeto de expansão da refinaria. O fato de que grande parte do investimento já foi feito, com equipamentos já instalados, é visto como um fator que reduz riscos.

Em relatório recente, analistas do banco UBS BB estimam que a ampliação da Rnest (como a refinaria é chamada pela Petrobras) adiciona US$ 0,30 por ADR (recibos de ações negociadas em Nova York) da Petrobras.

O projeto de expansão do chamado trem 2 da refinaria acrescenta uma capacidade de refino de 150 mil barris de petróleo, com a produção de 300 milhões de litros de diesel por ano. Foi aprovado ainda no governo Jair Bolsonaro (PL), ao custo de US$ 1,5 bilhão (cerca de R$ 7,5 bilhões).

“Uma vez que boa parte do investimento já foi feito com os investimentos no trem 1 e preparação da refinaria, entendemos que a confirmação do investimento no trem 2 adiciona capacidade no horizonte da nossa análise e gera retornos positivos para a companhia (e consequentemente para o acionista)”, diz Luiz Carvalho, do UBS BB.

“Para a Petrobras, é muito importante, principalmente pela expectativa de crescimento na produção de derivados de petróleo. Ou seja, a companhia pode ampliar sua atuação para além da exploração de petróleo”, diz Heitor Martins, estrategista de investimentos da Nexgen Capital.

A primeira unidade da refinaria, com capacidade para refinar 115 mil barris de petróleo por dia, está em operação desde 2014. A Petrobras chegou a negociar o ativo durante a gestão Bolsonaro, mas não conseguiu concluir a venda.

A avaliação da empresa é que a obra inacabada acrescentava riscos para eventuais compradores e, em novembro de 2020, sua conclusão foi aprovada pelo conselho de administração. Com a mudança de governo, a venda está descartada.

Ao contrário: a gestão petista já anunciou planos de reforçar os investimentos em refino, com ampliação de unidades existentes e construção de biorrefinarias, que produzem combustíveis com o uso de matérias-primas renováveis.

A maior parte das obras restantes na refinaria Abreu e Lima refere-se a montagem de equipamentos. Uma licitação já foi aberta pela Petrobras, mas os resultados ainda não foram divulgados. A ideia é contratar pacotes de serviços.

A Petrobras prevê o início das operações da segunda unidade em 2027. O UBS BB já prevê algum atraso para 2028. O projeto original previa a entrada em operação em 2011, ainda em uma natimorta parceria com a Venezuela, que refinaria parte de sua produção no país.

Uma série de atrasos e aumentos no orçamento depois, os números mais recentes indicam que a Petrobras já gastou no projeto cerca de US$ 18 bilhões (R$ 80 bilhões). Defensores da retomada das obras, porém, preferem desconsiderar o número, alegando que as perdas já foram contabilizadas.

A Petrobras não havia respondido ao pedido de entrevista até a publicação deste texto.

Autor/Veículo: Folha de São Paulo