Num momento de recuo da inflação de 12 meses a níveis de 2020, a alta do preço do petróleo volta a ameaçar o bolso do consumidor e jogar pressão sobre a gestão da Petrobras, menos de duas semanas após a questionada redução no preço da gasolina.
Nesta quarta-feira (12), a cotação do petróleo Brent bateu a casa dos US$ 80 por barril pela primeira vez desde abril. O barril fechou o pregão a US$ 80,11, diante de expectativas de interrupção do ciclo de elevação da taxa de juros nos Estados Unidos após bons dados sobre a inflação.
Especialistas acreditam que o cenário altista pode se manter, impulsionado por perspectivas de aumento do consumo e pelos seguidos cortes de produção em países da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).
A alta reforça questionamentos sobre a nova estratégia de preços da Petrobras, que abandonou o conceito de paridade de importação, conhecido como PPI, e vem praticando preços abaixo do mercado internacional ao desde maio.
Na abertura do pregão desta quarta, as defasagens entre os preços internos da gasolina e do diesel e a paridade internacional atingiram patamares observados pela última vez no fim de janeiro, quando a estatal promoveu o último aumento de preços.
Segundo cálculos da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), o preço médio da gasolina nas refinarias brasileiras está hoje R$ 0,44 por litro mais barato do que a paridade de importação. No diesel, a defasagem é de R$ 0,41 por litro.
Considerando apenas as refinarias da Petrobras, a diferença é ainda maior: R$ 0,46 por litro na gasolina e R$ 0,43 por litro no diesel. No caso da gasolina, a defasagem chegou a bater esse patamar no início de julho, logo após o último corte promovido pela estatal. No diesel, é a maior desde janeiro.
O corte de R$ 0,14 por litro, anunciado um dia antes da retomada integral da cobrança de impostos federais derrubou o valor de mercado da companhia, diante de dúvidas sobre ingerência do governo na gestão de preços dos combustíveis.
A queda nas refinarias, que compensou parcialmente a elevação dos impostos, havia sido antecipada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em maio, como uma estratégia para reduzir o impacto sobre o consumidor e a inflação.
A Petrobras negou qualquer acordo com o governo, mas baixou a gasolina na véspera do aumento do ICMS sobre o combustível e, depois, na véspera da retomada dos impostos federais.
A manutenção dos preços internos em um cenário alta do petróleo é considerada um dos principais riscos para investidores na empresa em relatório divulgado nesta quarta-feira pelo banco Goldman Sachs.
“Preços dos combustíveis significativamente abaixo das cotações internacionais podem desencorajar outras empresas a importar os volumes necessários para suprir o mercado”, escreveram os analistas Bruno Amorim, João Frizo e Guilherme Costa Martins.
Assim, a Petrobras poderia se ver obrigada a garantir o abastecimento sozinha, com risco de prejuízos pela venda de produtos abaixo do preço de custo, como ocorreu durante o governo Dilma Rousseff.
Eles calculam que, com o Brent a US$ 80 por barril e gasolina e diesel a preços atuais, por exemplo, a área de refino da empresa tem Ebitda negativo de US$ 1,2 por barril. Com o Brent a US$ 85, a perda sobe para US$ 4,5 por barril.
Os analistas ponderam, no entanto, que a estatal se beneficia dos altos preços do petróleo por ser uma grande produtora, o que mais do que compensa as perdas na venda de combustíveis abaixo das cotações internacionais.
(Com Reuters)
Autor/Veículo: Folha de São Paulo