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Qual é a nova aposta de combustível verde que será testada na Cidade Universitária?

A Cidade Universitária da USP inaugura neste ano a primeira estação experimental de abastecimento por hidrogênio renovável do mundo – um combustível alternativo com potencial para reduzir significativamente as emissões de gás carbônico, o principal causador do efeito estufa.

O desenvolvimento do combustível alternativo é fruto de uma parceria entre a universidade e empresas privadas e tem como principal objetivo o combate ao aquecimento global. A ideia é oferecer uma alternativa de baixo carbono para o transporte pesado, sobretudo para caminhões e ônibus, que deixariam de usar o diesel (que emite CO2) para usar o hidrogênio produzido a partir do etanol (que emite somente água).

Este posto piloto terá capacidade de produzir 4,5 quilos de hidrogênio (em forma de gás) por hora, quantidade suficiente para abastecer três ônibus cedidos pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) e um veículo Mirai, oferecido pela Toyota Brasil, que circularão pelo câmpus durante pelo menos um ano para testar a eficiência do novo combustível.

“Meu objetivo é transformar os nossos câmpus em exemplo de sustentabilidade para transformarmos as cidades em que estamos inseridos: cuidado com a água, com os resíduos sólidos, com produção de energia”, disse ao Estadão o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior. Principal instituição de ensino superior do País, a USP completa 90 anos nesta semana.

“A universidade precisa ser uma liderança na sociedade para convencer as pessoas que isso precisa ser feito, mas também precisamos dar as soluções”, acrescentou. Na fase de teste, os cientistas vão validar os cálculos sobre emissões e custos do processo de produção e uso do hidrogênio.

Assinado em 2015, o Acordo de Paris prevê esforços para limitar alta da temperatura global a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais (meados do século 19). Tecnologias que permitam uma transição energética são essenciais para evitar a queima de combustíveis fósseis.

Relatório do Observatório Europeu Copernicus deste mês confirmou que o ano de 2023 foi o mais quente já registrado – até agora. Pela primeira vez, a temperatura de todos os dias do ano ficou 1ºC acima dos níveis pré-industriais. Pelas contas dos pesquisadores, são as temperaturas mais altas dos últimos cem mil anos. Segundo os mesmos especialistas, 2024 vai pelo mesmo caminho.

A estação de abastecimento é resultado de um projeto de pesquisa desenvolvido pelo Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), da Escola Politécnica da USP, em parceria com a Shell Brasil, a Raízen, Hytron, Senai Cetiqt e Toyota.

O RCGI é um centro de pesquisa em engenharia que desenvolve pesquisas exclusivamente voltadas para o uso sustentável de gás natural, biogás e hidrogênio, além da gestão, transporte, armazenamento e uso de CO2.

“O Brasil tem condições de ser um dos líderes mundiais na pesquisa de combustíveis renováveis pelo fato de conseguirmos aliar agricultura, energia e engenharia, áreas do conhecimento que se tornarão cada vez mais importantes para vencer os desafios impostos pela mudanças climáticas”, afirmou o diretor-geral do RCGI, Julio Meneghini.

“No País, 10% dos gases do efeito estufa vêm do setor de transporte. Vejo um potencial enorme no uso hidrogênio para descarbonizar o transporte pesado e público”, acrescenta ele, professor da área de Engenharia Mecânica da universidade.

O hidrogênio é um gás instável e, para contornar o problema, a ideia é levar o etanol até a estação e lá mesmo produzir o hidrogênio. Por conta do uso do álcool combustível, o País já dispõe de uma infraestrutura para distribuição do etanol.

Dentre os equipamentos instalados na estação, haverá um reformador a vapor, onde o etanol será convertido em hidrogênio por meio de um processo químico de “reforma a vapor” – que ocorre quando o etanol, submetido a determinadas temperatura e pressão, reage com a água dentro de um reator.

No carro a hidrogênio, a energia usada para mover o carro é produzida no motor, de forma constante, o que torna o veículo mais eficiente.

“No Brasil, há muitos centros de inovação. Universidades como a USP, que estão entre as cem melhores do mundo. A área de óleo e gás conhecemos muito bem, mas a de transição energética é mais nova”, diz o diretor-geral de Tecnologia e Inovação da Shell Brasil, Olivier Wambersie.

“É difícil investir grandes fundos numa área que não conhecemos tão bem. Então criamos centros de inovação dentro das universidades”, continua ele. O RCGI, segundo ele, tem 80 projetos e recebeu R$ 250 milhões de investimentos da multinacional.

A iniciativa é um exemplo de parceria entre o mundo acadêmico e a iniciativa privada, modelo que a USP quer explorar mais para alavancar seus projetos ligados à inovação. Na década de 1970, o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), por exemplo, colocou o Brasil na dianteira do desenvolvimento de bioenergia graças ao esforço conjunto de cientistas, empresas e poder público.

A assinatura da parceria com as companhias do setor energético ocorreu em setembro de 2022. Na época, o presidente da Fapesp, a fundação paulista de amparo à pesquisa, Marco Antonio Zago, disse que o acordo era “representativo da cooperação entre o mundo acadêmico e o empresarial, necessária e fundamental para o desenvolvimento econômico não só do Estado de São Paulo, mas do País”.

Autor/Veículo: O Estado de São Paulo